Há anos ouvimos que a tecnologia resolverá a escassez de profissionais qualificados. Mas será que estamos realmente solucionando o problema ou apenas deslocando a questão para outra esfera? A cada nova onda de inovação, surge uma nova demanda por especialistas que ainda não existem em quantidade suficiente. Empresas correm atrás de talentos em inteligência artificial, ciência de dados e segurança cibernética, mas não conseguem preencher as vagas. O mercado, que já não estava preparado para as exigências do presente, se vê ainda mais despreparado para o futuro.
Automação e inteligência artificial são frequentemente citadas como soluções para essa escassez, mas essa é uma visão ingênua. A tecnologia pode eliminar tarefas operacionais, mas não substitui a necessidade de profissionais capacitados para desenvolvê-la, implementá-la e monitorá-la. Enquanto a demanda anual por profissionais de Tecnologia da Informação e Comunicação chega a 159 mil, o número de formandos nessa área não passa de 53 mil por ano, deixando um déficit de 106 mil talentos. Na prática, estamos criando um novo problema: um mercado que exige atualização constante, mas sem oferecer uma estrutura eficiente para a formação de profissionais. O resultado? Empresas enfrentam dificuldades para contratar e reter talentos, enquanto os poucos especialistas disponíveis são disputados globalmente.
A realidade é que a evolução tecnológica impõe desafios tanto para empresas quanto para profissionais. Modelos de trabalho mais flexíveis, como o remoto e o híbrido, expandiram as possibilidades de contratação, mas também elevaram o nível de concorrência. O profissional brasileiro agora compete com candidatos do mundo inteiro, e as empresas locais precisam oferecer mais do que bons salários para manter seus talentos. O maior desafio não é apenas encontrar especialistas, mas criar condições para que eles se desenvolvam e permaneçam.
O problema se agrava porque muitas empresas ainda buscam soluções imediatas, tentando contratar profissionais “prontos” ao invés de investir na formação de novos talentos. Essa mentalidade precisa mudar. A capacitação deve ser um compromisso contínuo, estruturado e estratégico. É essencial criar programas de treinamento interno, estabelecer parcerias com instituições de ensino e investir em iniciativas que formem novos profissionais. Não adianta querer apenas contratar especialistas em IA ou cibersegurança se não há um pipeline de talentos sendo desenvolvido.
Além disso, a forma como muitas empresas adotam novas tecnologias demonstra um grande equívoco. Elas querem inovar, mas não se preocupam em preparar suas equipes para lidar com essas mudanças. Sem treinamento adequado, a adoção de novas ferramentas se torna um processo caótico, gerando resistência, erros e frustrações. Tecnologia sem qualificação não resolve nada – pelo contrário, pode criar mais problemas do que soluções. O planejamento para adoção de novas tecnologias deve incluir um período de adaptação e maturação, garantindo que as equipes estejam preparadas para essa transição.
A verdade é que, sem uma mudança de mentalidade, o déficit de profissionais só vai aumentar. Não há solução mágica. As empresas precisam parar de enxergar a escassez de talentos como um problema externo e assumir um papel ativo na construção de um ecossistema de formação e desenvolvimento. Isso significa não apenas treinar os profissionais que já estão no mercado, mas também investir na inclusão de grupos que ainda têm pouca representatividade na tecnologia. Bootcamps, programas de trainee e incentivos à capacitação são medidas fundamentais para garantir um fluxo contínuo de novos talentos.
A tecnologia está remodelando o mercado de trabalho, mas o fator humano continua sendo o mais importante. Empresas que não investirem em formação, retenção e desenvolvimento de profissionais ficarão para trás – não por falta de inovação, mas por falta de pessoas capacitadas para usá-la. O futuro não será dominado por quem tem a tecnologia mais avançada, mas por quem souber preparar e capacitar sua força de trabalho para acompanhá-la.
Por Rafael Spagnuolo, sócio-fundador da Ideen Tecnologia
*Rafael Spagnuolo é fundador da IDEEN Tecnologia, empresa especializada em inovação e soluções tecnológicas voltadas para aumentar a eficiência e a escalabilidade dos negócios. A IDEEN desenvolve e implementa soluções que auxiliam empresas a superar desafios tecnológicos, seja por meio da inovação em processos, do desenvolvimento de produtos digitais ou da conexão com especialistas qualificados para projetos estratégicos. Ao longo de sua trajetória, Rafael fundou empresas como IDEEN, Sow, Elo e Revvo, contribuindo significativamente para o avanço do mercado de tecnologia no Brasil. Suas iniciativas têm impulsionado a otimização de processos, a viabilização de novos modelos de negócio e o aumento da competitividade de diversas organizações por meio de soluções tecnológicas inteligentes.
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