Nas primeiras semanas de setembro, uma das notícias que mais impactaram o Brasil foi o anúncio da saída de Tiago Leifert da Rede Globo. Embora filho de um ex-funcionário importante da emissora (Gilberto Carlos Leifert), o jornalista sempre se destacou por ser um profissional espontâneo, ágil, persistente e inovador. Estagiou na NBC (EUA), depois foi para TV Vanguarda (afiliada da Globo em São José dos Campos), SporTV e na sequência, em 2008, foi contratado como repórter de esportes da Globo, responsável por grandes mudanças no formato do programa Globo Esporte, que assumiu uma linguagem mais informal, sem uso de teleprompter e passou a ter mais espaço para movimentação, sem o uso de chromakey.
Em 2012, aceitou apresentar o The Voice Brasil, e em 2017, substituiu Pedro Bial no comando do Big Brother Brasil, que apresentou resultados históricos nos últimos anos, tornando-se o programa carro-chefe da emissora. Em junho de 2021, substituiu o Faustão na Super Dança dos Famosos, até a estreia de Luciano Huck.
Tiago permaneceu na Globo por 15 anos e com seu talento e profissionalismo, conquistou seu espaço, tornando-se um dos apresentadores mais bem pagos da casa (R$ 450 mil).
Mesmo chegando ao ápice de sua carreira, Leifert decidiu não renovar com a emissora. Logo, coloquei-me a refletir: o que nós podemos aprender com a saída de Tiago Leifert?
Sempre deixe as portas abertas
Leifert sempre fez um excelente trabalho na Rede Globo, agregando valor tanto à marca da empresa, quanto à sua marca pessoal. Ele dará uma pausa, pois está muito cansado, mas deixou as portas abertas na emissora, ao contrário de alguns colegas (vide polêmica saída de Marcos Mion da Record). Nota-se que este não tomou a decisão de última hora, negociando sigilosamente sua saída, deixando a empresa sempre ciente de seus próximos passos.
Entendo que, muitas vezes, recebemos propostas irrecusáveis ao longo da carreira, porém, é importante nunca deixar a empresa atual “na mão”, afinal, nunca saberemos se um dia precisaremos voltar para ela. Para finalizar esse ciclo, Leifert aceitou comandar a próxima edição de The Voice, a qual faz muito bem e deixará saudades.
Lifelong Learner
Uma das competências demandadas ao profissional do século XXI é o lifelong learner, o qual nos ajuda a desenvolver a capacidade de desaprender velhos hábitos e aprender rapidamente novos conceitos e práticas. Noto que o Tiago Leifert tem fortemente essa característica, ao sempre ter sido posto aos grandes desafios da emissora. Começou no esporte e, aos poucos, passou a comandar grandes produtos da emissora, e, por onde passou, deixou as marcas de sua mente inovadora. Ele foi adaptando-se e aprendendo rapidamente com a evolução dos programas. A última (e bem-sucedida) experiência foi a substituição do Faustão, a qual ele foi escalado de última hora, mas não deixou nada a desejar.
Além do mais, Leifert vai dar uma pausa na carreira para estudar. O apresentador, embora longe das telas, se atualizará em seu momento sabático.
Atue como startup
Assim como uma startup, Tiago Leifert é muito bom em encontrar lacunas ainda não atendidas no mercado (growth hacking) e atua com agilidade, melhorando os quadros dos programas e sua apresentação, de acordo com o feedback de seus fãs e com a linguagem de cada programa.
Nota-se que ele é muito antenado em tudo que acontecia na internet e, embora a Globo tenha um perfil mais conservador, conseguia dialogar tanto com o público online (trabalhando com memes, por exemplo), quanto com o público que assiste TV, trazendo as inovações necessárias. Vimos isso acontecer bastante no BBB, além de mudar a linguagem do jornalismo esportivo na Globo, que nunca mais foi o mesmo, depois de sua apresentação e direção.
Creio que essa característica de inovação, adaptabilidade e escuta ativa é o que mais fazia o Boninho adorar trabalhar com Tiago.
A felicidade vai além de seu trabalho: saiba dizer não e equilibre todos as áreas da sua vida.
Em pleno “Setembro Amarelo”, torna-se importante abordar o motivo pelo qual Tiago Leifert sai da Globo: seu cansaço.
Nós tendemos a crer que artistas, só porque ganham muito bem, devem estar sempre prontos, com um sorriso no rosto, para encarar grandes desafios, mas nos esquecemos que diariamente sofrem muita pressão por resultados, dentro da emissora (resultado com os anunciantes e público) e fora dela (haters e internet). Tudo indica que Leifert está com Burnout, devido ao acúmulo de tarefas, um excesso de responsabilidade e nível de exigência exagerado proveniente da cobrança por resultados. Nota-se que, ao longo da sua carreira, Tiago não deu pausas consistentes para descansar sua mente: quando ele achava que iria tirar férias do BBB, em meio a um almoço de família, foi chamado às pressas para substituir o Faustão.
Os sintomas do burnout podem ser físicos e mentais, como esgotamento físico e mental, falta de motivação para ir trabalhar, maior irritabilidade, depressão, ansiedade, baixa autoestima, dificuldade de concentração, pessimismo, dores de cabeça constantes, enxaqueca, fadiga, palpitação, pressão alta, tensão muscular, insônia, problemas gastrintestinais, gripes e resfriados recorrentes, entre outros.
Em entrevista para Ana Maria Braga, em seu clássico café da manhã, Tiago disse que estava mal. “Teve um dia, que talvez tenha sido a minha grande epifania do ano passado, no BBB 20: pandemia, minha esposa grávida. Eu cheguei em casa, 3, 4 horas da manhã, ela acordou e falou: ‘O programa foi demais! […] Você não está feliz?’ e eu falei: ‘Não, porque eu não fiz mais do que a minha obrigação’. Ela continuou: ‘Você não vai comemorar?’. Eu: ‘Não, vou comemorar em maio, quando a gente entregar a temporada’”.
“Mas na verdade, Ana, é que eu não comemorei em maio também porque eu já estava preocupado com o próximo e com o outro. E foi aí que eu parei e falei: ‘Mas quando eu vou declarar vitória?”. Essa frase me fez lembrar das palestras de Leandro Karnal, ao abordar sobre o tema felicidade: nós, seres humanos, tendemos a achar que apenas quando alcançarmos o nosso próximo nível de um “jogo chamado vida”, é que seremos felizes. Enquanto estagiários, só seremos felizes na efetivação, depois, ao nos tornarmos gestores, diretores, presidentes, e quando nos damos conta, a vida passou e, ao invés de curtirmos cada momento único de nossas vivências, sempre esperamos a chegada da felicidade no próximo nível, que nunca vem.
Tiago me faz refletir que devemos olhar com carinho para cada área da nossa vida (saúde, família, trabalho voluntário, amigos, estudo, entre outros) e valorizarmos os pequenos momentos: o almoço em família, o acompanhamento do crescimento dos filhos, os momentos com o cônjuge, tempo de qualidade aos estudos, o cheiro da roupa lavada no varal, da casa limpa e os hobbies.
Sabemos o quanto Tiago se divertia muito fazendo o BBB, The Voice e os programas esportivos, mas nossa existência é muito maior do que bater metas e cumprir grandes resultados. Contemple o belo, aprecie um delicioso café, diga “eu te amo” a quem está perto, entenda que nem sempre todos os dias serão de céu azul e ensolarado, chore, celebre, sinta a sua humanidade. Não deixe o trabalho e a rotina te engolirem.
Que você, assim como Leifert, possa desfrutar a sua existência, sendo feliz nos pequenos presentes que a vida te dá.
Equilíbrio a todos nós.
Mariana Munis é professora de Marketing e especialista em Comportamento do Consumidor da Universidade Presbiteriana Mackenzie Campinas.
Sobre a Universidade Presbiteriana Mackenzie
A Universidade Presbiteriana Mackenzie está na 103º posição entre as melhores instituições de ensino da América Latina, segundo a pesquisa QS Quacquarelli Symonds University Rankings, uma organização internacional de pesquisa educacional que avalia o desempenho de instituições de ensino médio, superior e pós-graduação. Possui três campi no estado de São Paulo, em Higienópolis, Alphaville e Campinas. Os cursos oferecidos pelo Mackenzie contemplam Graduação, Pós-Graduação Mestrado e Doutorado, Pós-Graduação Especialização, Extensão, EaD, Cursos In Company e Centro de Línguas Estrangeiras.
Em 2021, são comemorados os 150 anos da instituição no Brasil. Ao longo deste período, a instituição manteve-se fiel aos valores confessionais vinculados à sua origem na Igreja Presbiteriana do Brasil.
Por Mariana Munis
Fonte: Assessoria de Imprensa Instituto Presbiteriano Mackenzie
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