O movimento ESG (ambiental, social e governança) propõe práticas empresariais que promovem a sustentabilidade ambiental, responsabilidade social e governança transparente. Contudo, apesar de sua crescente popularidade e pressão dos stakeholders, o mercado não o adota de forma unânime e muitas empresas hesitam em integrar critérios ESG em suas operações.
Nas empresas, os fatores críticos para o sucesso de práticas sustentáveis são a capacitação e desenvolvimento de lideranças e colaboradores (56%), seguido pela importância de integrar a sustentabilidade na estratégia de negócios da empresa (48%) e pela previsão de orçamentos específicos e recursos financeiros adequados para viabilizar as iniciativas ESG (47%), é o que indicou a recente Pesquisa Panorama ESG, da Amcham.
Existem diversas razões para essa resistência, que envolvem desde desafios éticos, financeiros, regulatórios e até uma visão cética sobre os impactos reais do ESG nos resultados de longo prazo.
Quando pensamos no desafio ético ao ESG, o que está sendo discutido é o negacionismo. As mudanças climáticas são comprovadas cientificamente, mas existem executivos e políticos ao redor do mundo que negam a existência por diversos motivos, como não acreditarem na ciência, por medo de enfrentar a realidade, porque não querem mudar a forma com que fazem negócios, e por questões puramente de estratégia política. Infelizmente, existe a resistência as mudanças no mercado, principalmente no tocante a mudar qualquer tipo de negócio, que mesmo que polua, por exemplo, ainda continue a dar lucro. Como se diz popularmente: não se muda time que está ganhando.
Ademais, temos ainda a pressão por resultados financeiros no curto prazo que impactam o movimento ESG. O mercado financeiro é orientado, em grande parte, por resultados de curto prazo, e muitos investidores priorizam retornos rápidos sobre investimentos de longo prazo em práticas sustentáveis. As ações ESG, por sua natureza, visam benefícios de longo prazo que podem não se traduzir em lucros imediatos, o que contraria a lógica de muitos acionistas e investidores.
Para empresas listadas em bolsa de valores, existe uma pressão intensa para manter o crescimento e o lucro trimestral, e isso cria um conflito com as iniciativas ESG. Como resultado, existem empresas que adiam ou limitam a adoção das práticas, temendo que isso possa afastar investidores ou reduzir o valor das ações a curto prazo.
Outra barreira importante para a adoção do ESG no mercado é a falta de padronização e clareza nas métricas de mensuração. As diretrizes ESG ainda são inconsistentes entre os diversos mercados e setores, o que dificulta a comparação e a análise do desempenho. Empresas e investidores encontram dificuldades para definir quais práticas são realmente sustentáveis e como mensurar o seu real impacto.
Essa ausência de padrões universais de medição leva a percepção de que o ESG pode ser, em alguns casos, uma prática subjetiva e arbitrária. Além disso, há críticas de que os relatórios de ESG podem ser manipulados pelas empresas para criar uma imagem mais positiva do que a realidade, o que pode levar a acusações de “washing” e enfraquecer a credibilidade do movimento ESG.
Ademais, existe relutância do mercado em adotar o ESG devido ao alto custo (deveria ser considerado um investimento, mas não é) associado a implementação de práticas sustentáveis e socialmente responsáveis. Integrar critérios ESG significa colocar dinheiro em projetos como energia sustentável, boas práticas trabalhistas, entre outras. Além disso, adaptar a estrutura organizacional e a cadeia de suprimentos para atender as exigências do ESG implica em mudanças profundas no sistema de gestão e processos de produção uma vez que parte das empresas veem estes ajustes como complexos e dispendiosos. Empresas com modelos de negócios tradicionais e que operam em setores com grande impacto ambiental enfrentam desafios ainda maiores para ajustar-se ao ESG sem comprometer sua lucratividade ao curto prazo.
Por último, ainda existe ceticismo do mercado e empresas em relação aos resultados concretos do ESG. Muitos críticos questionam se a prática realmente agrega valor econômico ou se é uma tendência passageira movida mais por questões de imagem e marketing do que por impactos econômicos substanciais.
Embora o ESG seja cada vez mais visto como um diferencial competitivo e positivo, especialmente entre os consumidores e investidores conscientes, o mercado ainda não o vê como uma estratégia universalmente aplicável, apesar de todas as evidências científicas existentes demonstrarem que sem o ESG chegaremos ao ponto de não termos mais reservas naturais, com um clima totalmente instável e violento, que irá prejudicar a agronomia, cidades e até as próprias empresas. Sem meio ambiente não irão mais existir pessoas, sem pessoas as empresas não irão mais comercializar, sem comercialização não existirá mais lucro.
Por Patricia Punder, advogada e CEO da Punder Advogados
Patricia Punder, é advogada e compliance officer com experiência internacional. Professora de Compliance no pós-MBA da USFSCAR e LEC – Legal Ethics and Compliance (SP). Uma das autoras do “Manual de Compliance”, lançado pela LEC em 2019 e Compliance – além do Manual 2020.
Com sólida experiência no Brasil e na América Latina, Patricia tem expertise na implementação de Programas de Governança e Compliance, LGPD, ESG, treinamentos; análise estratégica de avaliação e gestão de riscos, gestão na condução de crises de reputação corporativa e investigações envolvendo o DOJ (Department of Justice), SEC (Securities and Exchange Comission), AGU, CADE e TCU (Brasil). www.punder.adv.br
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