Muito se fala sobre o conceito de cidades inteligentes, tanto em artigos na imprensa, em campanhas eleitorais e em discussões sobre políticas públicas na academia e no terceiro setor. A definição do que é uma cidade inteligente costuma convergir para uma ideia central: é a cidade que usa a tecnologia para resolver problemas e melhorar a vida das pessoas.
Setor privado tem papel central na implementação de tecnologias em benefício das pessoas
Assim, não se trata de um uso supérfluo da tecnologia, nem de desenvolver um aplicativo de forma acessória, apenas para dar um verniz de modernidade a uma situação que poderia dispensá-lo. Trata-se, isto sim, de empregá-la onde ela realmente faz diferença.
Segundo um relatório da consultoria McKinsey, a estruturação de uma cidade inteligente se dá a partir de três camadas. A primeira delas, o ponto de partida, é a tecnologia: smartphones, sensores, redes de comunicação e portais de dados, programados para ler variáveis como o fluxo do tráfego, o consumo de energia, a qualidade do ar — todas as externalidades que moldam o nosso cotidiano.
A segunda camada consiste em aplicações específicas para esses dados brutos: alertas, insights, ações e ferramentas. Basta pensar nos aplicativos que avisam o motorista sobre vias congestionadas em tempo real, no monitoramento local dos contágios por uma doença, na detecção de vazamentos de água, nos semáforos capazes de ler e interpretar o trânsito — que logo serão possíveis a partir da implementação do 5G — e nos postes de luz inteligentes, que acendem exatamente quando o sol se põe.
A terceira camada, e a mais importante, é a incorporação orgânicas dessas aplicações na vida das pessoas e os impactos positivos que resultam disso. As ferramentas inteligentes estimulam os sistemas urbanos pré-existentes a fazer mais com menos recursos. Elas promovem novos hábitos, como economia de tempo, redução de desperdício, contribuições que impactam até mesmo em fatores como a redução da criminalidade.
Ao ler sobre todas essas possibilidades de melhorar o uso das cidades e a qualidade de vida dos seus habitantes, é inevitável pensar no imenso potencial desperdiçado pelo nosso país. O Brasil, afinal, é o país da superestrutura sem infraestrutura: de um lado, uma parcela pequena da população tem acesso a tecnologias avançadas, equivalentes às dos países desenvolvidos, mas que, muitas vezes, estão dissociadas do espaço público. De outro, por causa da desigualdade social e da expansão precária e apressada das cidades, a maioria das pessoas depende de serviços básicos — trânsito, saúde, segurança, recursos como água e energia — que não funcionam como deveriam, independentemente de serem analógicos ou digitais.
A ideia central por trás das cidades inteligentes não é criar mais superestrutura, mas melhorar a infraestrutura que já existe. Não é um fim, mas um meio, uma forma de viabilizar soluções e responder com eficiência às necessidades dos habitantes. A tecnologia existe para servir às pessoas, e a cidade só vai ser, de fato, inteligente, se elas participarem ativamente dessa relação.
No início do texto, mencionei a academia, o Estado e o terceiro setor como espaços onde o debate sobre o planejamento e a implementação de soluções inteligentes nas cidades está mais avançado. Cada um desses lugares desempenha um papel essencial. Como presidente de uma empresa, temos o nosso: de oferecer contribuições concretas pelo setor privado para essas discussões. Quando uma cidade funciona de forma eficiente, afinal, ela também se torna um ambiente de negócios mais produtivo.
Para que as cidades inteligentes cumpram a sua missão, é preciso enxergar além: todos os consumidores são, antes, cidadãos. Cerca de 60% do capital inicial para instalar as aplicações ligadas às cidades inteligentes poderia partir do setor privado — o dado também é do relatório da McKinsey — e os empresários têm um papel ativo na construção de soluções para uma vida melhor.
Autor: Rodrigo Miranda – CEO da Zaitt
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