Algoritmos podem decidir destino de funcionários em empresas
Uma companhia de software Russa e a americana Amazon são exemplos que usam inteligência artificial na hora da tomada de decisões importantes
Não é de hoje que a tecnologia tem atuado de maneira muito decisiva em diversos setores e vem ganhando cada vez mais espaço nas mais variadas tomadas de decisões. O questionamento que fica é: qual o equilíbrio entre deixar que escolha seja feita por um ser humano ou uma máquina, principalmente quando envolve uma outra pessoa?
Essa linha tem ficado cada vez mais tênue. Recentemente foi noticiado que a Xsolla, empresa de software Russa, despediu centenas de funcionários seguindo apenas a recomendação de uma inteligência artificial. Sem aviso prévio, 150 dos 450 funcionários foram demitidos do escritório da empresa em Perm e Moscou. A decisão foi tomada seguindo apenas a recomendação de um algoritmo de eficiência no trabalho que os considerou “improdutivos” e “pouco comprometidos” com os objetivos da empresa.
A Amazon, maior varejista on-line do mundo, também tem usado a tecnologia para decidir a vida de seus funcionários. Recentemente, um funcionário da companhia relatou que foi dispensado das suas atividades de entregador, pois o aplicativo que o monitora destacou que ele não fazia entregas no prazo. No entanto, segundo o funcionário, não foi considerado os empecilhos, como complexos de apartamentos que ele não conseguia entrar pois eram trancados com chave.
Com exemplos como esses deixando de ser raros, o assunto vem ganhando destaque nas discussões entre profissionais de RH. Jorge Martins, CEO da Bullseye Executive Search , uma das principais empresas de recrutamento e seleção do país, aponta que a tecnologia é essencial no desenvolvimento humano e na obtenção de agilidade de processos, mas que não deve ser usada em todos os casos sem supervisão humana.
“A demissão de um funcionário deve envolver diversos fatores. Não se deveria tratar pessoas apenas como números. O ideal é conversar, tentar ver onde está o erro, entender porque a entrega não está sendo feita e assim atuar para reverter e melhorar a situação. Engana-se quem pensa que essa atitude é boa apenas para o funcionário. A empresa perde, e muito, quando demite sem tentar reverter, pois muitas vezes tem que pagar custos trabalhistas, além de ter que treinar novos funcionários. Quando poderia simplesmente ter feito alguns ajustes”, aponta Jorge.
O executivo complementa que em qualquer decisão que envolva demissão é necessário que se leve em consideração além do aspecto profissional, as circunstâncias pessoais. Não importa se é uma empresa pequena ou uma gigante. As soluções tecnológicas devem ser complementares e as ações humanas e não o contrário.
“Nenhum ser humano deveria ser demitido sem um contato humano, mesmo que ele seja feito de forma online, já que os formatos de trabalho mudaram. É necessário o mínimo de respeito e empatia”, fala Jorge.
O fundador da Amazon, Jeff Bezos, afirmou em entrevista recente que as únicas decisões empresariais que é imprescindível deixar nas mãos de seres humanos são “as estratégicas”. As demais, as decisões “cotidianas”, por mais importantes que sejam, devem ser tomadas preferencialmente por algoritmos de inteligência artificial, porque eles agem levando em conta todas as informações relevantes e sem interferências emocionais.
No entanto, segundo Jorge, o problema está exatamente em não ponderar. O profissional aponta que a empatia, por exemplo, é um fator emocional que não pode ser descartado. “A tecnologia pode e deve ser usada para melhorar o desempenho de funcionários, aumentando assim a produtividade e os ganhos da empresa. Ou seja, quase um parceiro. Não um antagonista. É preciso entender que há um limite para algoritmos resolverem problemas complexos. Não se pode deixar que máquinas decidam sobre vidas “, finaliza Martins.
Autor: Jorge Martins
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